Costume querido das gentes da Bila, o seu início será anterior a 1891, segundo leitura de “O Povo do Norte”que noticiava (6.12.1891) os festejos realizados “com bandeiras e luminárias no edifício do Liceu, música nas ruas, vivas aos professores, foguetes a estrelejar e dois feriados”. Quando a noite se erguia, iniciava-se a RUADA; com capas ao vento lá ia a estudantada ( e com ela alguns românticos da velha guarda e outros folgazões ) em cortejo alegre que parava onde morasse professor, com “efe-erre-ás”, cujo calor estava na relação directa da estima e simpatia que pelo docente se nutria, o qual agradecia a deferência.
Cartaz de 56/57 |
-No dia 1 às 15h, a Academia vestida a rigor, homenageava a cidade, em cortejo rumo ao Jardim da Carreira onde era prestada homenagem a Camilo.
[ a bandeira foi benzida na Sé em 1925]. -As damas nas varandas, vendo a Academia atirar-lhes as capas negras, saudavam-na com júbilo e depositavam nestas um ramo de violetas. -O baile realizava-se normalmente no Salão Nobre do Clube de Vila Real. -Também aconteceu no Hotel Tocaio, no Claustro do Governo Civil e nos Bombeiros Voluntários da Cruz Branca. O Presidente da Academia abria o baile com uma professora. -Se houve bailes com pick-up, também os houve com orquestras famosas como as de Tony Hernâni e Sousa Galvão que prestigiaram as matinés e soirées dançantes dos anos 50. |
|
– A Récita de Gala, em 1909, realizou-se no Teatro Circo com uma comédia em 1 acto intitulada “Dois Estudantes no Prego” e o Prof.Óscar Lopes foi um dos docentes que tiveram o prazer de trabalhar com os alunos nos ensaios da sua época. Este espectáculo era seguido da “ceia dos cardeais”, com alguidares de arroz condimentados com gordas galinhas, ou perús, pilhados uma semana antes pelos estudantes nas capoeiras cujos donos, por vezes, eram convidados para o saboroso acto!.
|
Prémios, Política e maus momentos– O 1º de Dezembro foi ainda oportunidade para atribuição de prémios (1930) a nove discentes que no ano anterior mais se distinguiram no aproveitamento e assiduidade, acto que mereceu do Governo um louvor à Associação dos Amigos e Antigos Alunos do Liceu; mais tarde, em 1957, foi atribuído outro prémio a um aluno bem qualificado para prosseguimento de estudos universitários, no valor de 6.000 escudos. – Também ocorreram manifestações de ardor político, como em 1892 -“abaixo a aliança inglesa”- e 1911, a auréola da liberdade implantada em Portugal. – Em 1944, suspenso por 2/3 anos, devido à dança Rumba Negra exibida na récita de gala ter incomodado o Delegado do Delegado Provincial da Mocidade Portuguesa. O facto não impediu os estudantes de procurarem realizar algumas coisas e a homenagem a Camilo não falhava, mesmo com o portão do Jardim fechado saltavam as grades e colocavam a coroa de flores junto ao busto do escritor. – Em 1947 foi proibido o uso de capa e batina no interior do Liceu. . . . até que, em 1958, estivemos nas eleições de Humberto Delgado ! |
REGADINHO
– O Regadinho é de tradição posterior a 1926. Com a liberdade de expressão suprimida teriam os estudantes idealizado um processo simples, divertido, crítico e atrevido de manifestarem a sua opinião, a sua contestação perante factos, pessoas e situações da vida citadina. Vestiam-se de modo desusado, grotesco, caricato, extravagante, encarnando também um ou outro papel real, assumindo as mesmas posturas das pessoas ou das situações alvo do seu jogo. Então era o cortejo pela baixa, de muletas, de pijama, de combinação, com lençol, de fato de banho, de fraque, de cartola, descalços uns, esfarrapados outros, enpregados de mesa gentis, actuando como enfermeiros, médicos, professores, mendigos, piratas de perna de pau, senhores e senhoras da alta sociedade com todos os ademanes, casalinhos brincando aos amores, etc, etc. Havia cartazes com ditos picarescos, jocosos, irónicos, satíricos e por vezes mordazes; exibição de atrevidas minisaias, grupos acasalados, alusões caricatas, cantigas de luz de archote, danças engraçadas e piruetas. – Pessoas havia que não escapavam nas alusões e também os intocáveis. Em 1953, pelas críticas ao dr. Carmálio que severamente tratava as meninas do Magistério Primário quanto a comportamentos sociais, desde o vestuário às relações sociais, foram censuradas todas as “piadas”, pelo que nesse ano o Regadinho foi com uma rolha na boca. – Alguns académicos vestidos a rigor faziam vai e vem de ambas as margens do cortejo, com archotes acesos numa das mãos, cantando a canção do Regadinho com acompanhamento da banda de música, ininterruptamente. . . mandões eram o Custódio e o Citrato ! – Era nos sábados de Novembro e mais tarde ao dia 30 pelas 8 horas da tarde! -Nos tempos mais recentes, até 1988, passou para o dia 11 e à tarde . . . Letra “água leva o regadinho, água leva o regador, enquanto rega e não rega, vou falar ao meu amor…” |
“Citrato”
|
Bibliografia: |
AIRES, Joaquim Ribeiro “Escola Secundária de Camilo Castelo Branco -Vila Real Subsídios para a sua história e do ensino em Trás-os-Montes.”Vila Real, 1991 Adaptações: Prof. Júlio Coutinho |